Era pra ser uma deliciosa manhã de domingo, cheia de alegria e comunhão, mas eu me entristeci e resolvi voltar ao meu lugar de aconchego, meu lugar onde tudo é possível, onde ninguém me julga e onde meu filho é livre, voltei pra minha casa.
Ele, meu anjo autista, meu menino gostoso não verbal, minha delicia de gente, tem seu jeito peculiar de se comunicar, de demonstrar alegria. Ele bate palmas, se morde e grita.
Confesso que suas palmas são bem altas, afinal ele tem a força de Sansão e seus gritos são fortes, e esse é a sua forma de demonstrar emoção.
Ele estava alegre e queria demonstrar, e demonstrou, mesmo com todas as conversas e explicações.
Mas aqueles olhares, ah aqueles benditos olhares, aquelas viradas de cabeça na nossa direção, aqueles gestos entraram como flechas em meu coração.
Não consigo explicar o que acontece comigo, não consigo me conter, a tristeza invade meu coração e eu fico mal.
Era uma bela manhã de domingo, um culto e logo após um almoço, o almoço ficou pra trás, preferi almoçar em casa.
Não lido bem com essa situação.
Não deveria me importar, mas me importo.
As lágrimas insistem em querer sair do seu devido lugar, mas não, eu não as deixo saírem, saio eu do lugar que mal me faz.
Mas deveria eu ter me privado daquele almoço? Pior, ter privado meu marido e meus filhos?
Mas o que fazer? Não sei!
Ah Deus, eles são “ignorantes”, não conhecem o autismo, não sabiam que era aquela a forma que meu filho tinha pra se expressar.
Preciso ser mais tolerante com o próximo que é leigo.
Preciso aprender a deixar pra lá.
Preciso aprender a viver.
Eu preciso viver e meu filho também.
E vivemos, voltamos pra casa, foi melhor, almoçamos tranquilamente, vimos filmes, descansamos e tornamos nosso domingo como deveria ser, um belo domingo.
Fiquei triste naquele momento, mas superei, tínhamos compromisso a noite e fomos ao nosso compromisso, ainda bem que fomos.
Fomos ao teatro e não foi bom, foi MA RA VI LHO SO, foi sublime, meu menino Gostoso, meu Anjo, correu por todos os lados, gritou, bateu palmas e teve olhares pra ele, mas não de reprovação, olhares de admiração.
Ele estava tão feliz e eu fiquei feliz, ver meus três meninos correndo pelos corredores do teatro foi lindo, meus dois filhos e meu marido atras deles, foi divertido, para os três.
Assistimos nosso espetáculo e foi muito bom, amamos.
E nosso domingo que começou mal, terminou mais que bem, terminou maravilhosamente bem.
Era pra ser um domingo feliz, e foi!!!
Ana Paula Albuquerque
Blog: O Príncipe e o Anjo
Página: Autismo não é Adjetivo