Autismo! Não finja que se importa fellipe 4 de fevereiro de 2019

Autismo! Não finja que se importa

Então, eu tinha preparado um texto completamente diferente desse, um texto que falava da importância desse dia e o porque dele, no final eu fui procurar uma foto para ilustrar o texto e busquei na pasta de fotos do Lu, me deparando com as fotos do aniversário dele do ano passado, daí…….

Daí tudo mudou e eu resolvi falar um pouco sobre o aniversário dele do ano passado e de tudo o que aconteceu.

Em primeiro lugar deixo claro que não é uma reclamação, ou indireta para ninguém, somente uma constatação do que ocorreu e de como isso afetou o Luis.

Fala-se tanto em inclusão escolar e social, colocam textos sobre isso, mas na grande maioria das vezes deixamos nós de cumprir essa inclusão com alguém que está do nosso lado, que tem conosco um convívio diário, achando que por a pessoa ser deficiente e em alguns casos, como no do Lu, serem não verbais, elas não entendem o que acontece ao seu redor.

Doce ilusão! Esse é um dos maiores erros que cometemos.

Essa é uma das fotos do aniversário do Luis no ano passado, e assim ele ficou boa parte da festa, com semblante baixo e tristonho.

Depois de alguns esforços nossos (confesso que pra nós também foi bem complicado entender o que ocorreu) ele se soltou e se divertiu, mas poucas vezes sorriu.

Eu faço questão de comemorar todos os anos o aniversario dele e do irmão, com festinhas, mesmo que sejam pequenas.

Desde o primeiro ano (mesmo sem diagnóstico, mas ele já mostrava-se diferente e já buscávamos um significado para essa diferença) notei que as festas dele tinha sempre menos gente, mesmo eu convidando as mesmas pessoas da festa do Pedro.

Sempre tinha uma desculpa, viagens, outros compromissos, cansaço, enfim, desculpas variadas que não aconteciam nas festas do Pedro, pois todos sempre estão lá, pois as festas do Pedro são sempre um evento, as pessoas se preparam, se arrumam todas, é sempre algo diferente, mesmo sendo praticamente a mesma festa, somente temas diferentes.

Depois do diagnóstico isso se agravou mais um pouco, mas fomos aprendendo a lidar com a situação e a acreditar que quem estava na festa, era quem tinha que estar.

Mas no ano passado foi assustador.

A festa começou as 15:00hs, e já eram 15:30hs e ninguém tinha chegado, somente eu, ele, o irmão e o pai estávamos.

O Pedro começou a me questionar onde estavam os convidados, e eu não sabia explicar.

Uma angustia imensa invadiu meu coração e me deu uma vontade imensa de chorar, mas eu não poderia demonstrar, afinal ele também já tinha percebido.

Pedro me questionou uma, duas, três vezes, nessa terceira eu disse que não importava os convidados, se viriam ou não, nós estávamos ali e faríamos a festa dele ser especial com ou sem convidados, e eu comecei a fazer a festa, a brincar e a reagir aquela angustia, não deixando com que ela me dominasse.

Aos poucos foram chegando algumas pessoas.

Bem menos da metade dos convidados vieram e somente 7 crianças estiveram presentes, isso contando com o Lu e o Pedro e mais dois amigos do Pedro e três primos.

Dos amigos da escola, nenhum apareceu.

Da minha família, então, prefiro me abster nesse quesito, vieram os que tinham que vir mesmo, mas confesso que esses foram os que mais me chocaram.

Dos nossos amigos, bem, vamos deixar esses pra lá também.

A festa foi linda, foi perfeita, me empanturrei de bolo, salgados, doces, enfim, comemos até nos acabar.

Nos divertimos verdadeiramente, brincamos feito crianças, afinal tinha mais “adultos” que crianças.

Conversamos, demos muita atenção pro Lu, que também se divertiu, comeu, bagunçou e aproveitou quem lá estava.

Não, eu não estou aqui para questionar quem não veio, e sim para questionar o fato das pessoas acharem que o Luis não entende o que acontece ao seu redor.

Estou aqui para dizer que meu filho percebe tudo, sente tudo, ouve tudo e que ele como ninguém sabe o motivo das pessoas não terem vindo.

Sim ele sabe.

As pessoas poderiam ter tido a bondade de nos avisar que não viriam, de não confirmarem presença, poderiam ao menos terem sido honestas consigo mesmas.

Não posso deixar de dizer que algumas pessoas que não vieram nos avisaram e tinham real motivo para não vir, mas foram bem poucas.

A inclusão só acontece verdadeiramente, quando acontece dentro de nós, quando entendemos a importância de nossas ações na vida das pessoas com deficiência.

Falar bonito, escrever textos lindos, dizer que aceita, nada disso inclui.

O amor inclui e o respeito inclui, o resto é balela.

Esse realidade não foi ou é só do Luis Felipe, a grande maioria dos autistas passam por isso em seus aniversários, os dados e as histórias são alarmantes.

Que possamos verdadeiramente aproveitar o dia de hoje e analisarmos nossos atos, e pararmos de fingir que nos importamos.

Por ele, para ele e com ele, sempre.

Lu nós amamos você e eu sei que muitos que não vieram também te amam e muito, mas ainda não entendem ou se dão conta que você entende e percebe tudo.

Ana Paula Albuquerque
Blog: O Príncipe e o Anjo
Página: Autismo não é Adjetivo

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